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Destaque - 14 maio 2020

“Tudo o que não for produto essencial deve ser impactado”

Especialista comenta sobre a expectativa para a economia pós-coronavírus e que medidas poderiam ser tomadas para minimizar problemas

Economia pós-coronavírus, economia pós-covid, como deve ficar a economia depois do corona
Setores não essenciais devem ser os mais impactados, segundo professor da PUCPR (Foto: Nathalia Rosa/Unsplash)

A pandemia do novo coronavírus, ainda que relacionada diretamente à área de saúde, teve um efeito colateral forte e negativo no sistema econômico. Com as medidas de isolamento, as empresas param de funcionar, a economia retrai e o produto interno bruto (PIB) é impactado. Porém, ainda há poucas certezas sobre o futuro da economia do Brasil e do mundo. Para ajudar a entender o que os números e projeções sinalizam para os próximos meses, conversamos com Wilheim Meiners, professor do curso de Economia da PUCPR e especialista em desenvolvimento econômico.

PUCPR: Professor, como deve ficar o cenário geral da economia no Brasil e no mundo?

Meiners: Ainda não sabemos exatamente como vai ficar, porque dependemos do comportamento do coronavírus a partir das ações de saúde tomadas. Porém, já temos algumas previsões, umas mais otimistas, outras menos. No caso do Brasil, em relação ao PIB (que é a soma de todas as riquezas produzidas no país), as previsões pessimistas dizem que devemos ter uma queda de 12%. As mais otimistas falam de uma diminuição de 4 a 4,5% do PIB. A última previsão do Banco Central (divulgada no dia 11 de maio), é de 4,11%. Já em uma perspectiva mundial, as previsões menos otimistas falam de uma queda de 6% na produção, enquanto as mais positivas apostam em uma redução de 3%.

Quais devem ser os setores mais impactados no país?

De forma geral, tudo o que não for produto essencial deve ser impactado. Nesse sentido, as indústrias de eletrodomésticos, móveis, equipamentos eletrônicos, aeronáutica, assim como os serviços de cuidados pessoais, como clínicas de estética e academias de ginástica. Além dessas, temos também a economia criativa, a indústria petroquímica e automobilística. Esta última parou suas atividades quase que completamente e os estoques para 4 meses devem passar a durar 6, principalmente porque as pessoas têm receio de consumir este tipo de produto. Isso deve afetar o Paraná, que tem uma ligação forte com a produção de automóveis.

Alguma área deve crescer ou, pelo menos, não sofrer tanto?

Não devemos ver crescimento robusto, mas a indústria de alimentos deve expandir um pouco puxado pelo aumento no consumo das famílias. Serviços sociais, como os ligados à saúde, transporte e entregas também podem ter um crescimento.

O que poderia ser feito neste cenário de crise, seja ela maior ou menor? Há como reverter o quadro econômico geral do país?

Existem diversas ações que poderiam ser feitas, principalmente para atenuar os efeitos da crise. A curto prazo: prolongamento no período de quitação das dívidas e, além disso, manutenção e ampliação das políticas de renda mínima, com o objetivo de manter a condição de sobrevivência dos trabalhadores informais e autônomos. O Governo Federal já tomou medidas importantes, mas elas ainda não são suficientes para resolver os problemas, principalmente se o isolamento se prolongar.

Já a longo prazo o Brasil precisaria de um plano, puxado pelo capital público, que induzisse investimentos em infraestrutura e canalizasse recursos privados para a reindustrialização do país. Isso porque das três estratégias em que o Brasil vem apostando nos últimos anos (reformas previdenciária, tributária e administrativa; abertura econômica, com a expansão do comércio exterior; e uma ação associada a privatizações, concessões e entrada de investimentos estrangeiros), a primeira é recessiva e as outras duas são inviáveis para resolução do problema, considerando o cenário mundial mais protecionista e a posição do Brasil na tabela de classificação de investimento.

Pensando nesse investimento, alguma área deveria ser priorizada?

Sim. Neste momento, devemos pensar em duas áreas prioritárias: a infraestrutura urbana, principalmente de saneamento básico, e o complexo de saúde, com as indústrias produtoras de vacinas, medicamentos, equipamentos hospitalares, startups e desenvolvimento de tecnologia voltada a esta área. É uma questão de saúde pública. Com esta crise, percebemos que o Brasil não pode depender tanto da China para ter máscaras e luvas, por exemplo. De forma complementar, temos áreas não tão prioritárias, mas igualmente importantes: a de infraestrutura de transporte, energia e comunicação e o complexo agroindustrial, que deve ser levado com muita responsabilidade e cuidado com as questões ambientais.