CARTA DE PÁSCOA PUCPR

CARTA DE PÁSCOA PUCPR

Estimados estudantes, colaboradores e professores:

 

Nós, da reitoria da PUCPR, queremos iniciar esta carta partilhando um sentimento que, cremos, todos nós estejamos vivendo: que tempos difíceis estamos passando! Apesar disso, também nesses momentos, outros sentimentos vêm ao nosso coração de tal maneira que se tornam luzes para nossas vidas. Os poetas conseguem exprimir melhor do que nós, como por exemplo, Drummond de Andrade, que afirmou: “Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo”.

Diante da situação em que estamos vivendo, face a pandemia do COVID-19 e de todas as consequências que dela brotam, o que podemos fazer? Temos “apenas duas mãos” e, igualmente, apenas o “sentimento do mundo”. Parece ser tão pouco! Sentimo-nos como aquele discípulo de Jesus, no episódio do milagre da multiplicação dos pães, que a Ele disse: “Temos apenas cinco pães e dois peixes. Mas, o que é isso para tanta gente?” (Jo 6,8)

Temos, igualmente, o “sentimento do mundo”. Entretanto, qual o sentimento dele [do mundo] nesse momento? Ou melhor: temos parado para ouvir esse sentimento? Sobre isso nos alertou o Papa Francisco, em sua bênção ao mundo, na Praça de São Pedro, completamente vazia e chuvosa: “Neste nosso mundo, que Tu, Senhor, amas mais do que nós, avançamos a toda velocidade, sentindo-nos em tudo fortes e capazes. Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente”.

Sim, temos muito pouco a oferecer ao mundo nesse momento. Mas, temos “duas mãos”, temos a capacidade de encontrarmos juntos soluções criativas e até mesmo ousadas. Conseguimos, por exemplo, articular uma campanha intitulada “S.O.S. Vila Torres”, em defesa da subsistência dos nossos vizinhos. Além disso, produzimos uma série de conteúdos voltados para o equilíbrio e saúde mental em tempos de isolamento. Em apenas quatro dias, colocamos toda a Universidade para trabalhar em modalidade de ensino remoto. Para os estudantes, oferecemos um plano de atenção financeira sobre as mensalidades. Temos, sim, apenas duas mãos, mas com elas podemos oferecer amparo e abraço amigo, não o que toca a pessoa, mas o coração.

O sentimento do mundo é que estamos limitados, mas não de “mãos amarradas”. Ora, diante de tal situação, que palavra poderia emergir? Apenas uma é possível: esperança. Esperar não é somente esperar para si; é difundir essa esperança, é manter certo resplendor ao redor de si e dos outros. A esperança é o estofo onde o amor e a bondade são produzidos. Portanto, a esperança é sempre operosa; busca e faz o bem.

Esse nosso tempo – em que temos “apenas duas mãos e o sentimento do mundo” – é também o tempo de uma grande esperança: Páscoa. Quando pensamos na “Festa das festas” do cristianismo, uma afirmação do apóstolo Pedro nos vem à mente e ao coração: “Jesus passou pelo mundo fazendo o bem” (At 10,38). O verbo “passou” pode estar, em termos de conjugação, no passado, mas em termos de “presença”, é um presente, presente contínuo, presente ativo. Jesus ainda passa pelo mundo fazendo o bem. Sua Páscoa é a nossa páscoa, o que se nota continuamente em cada gesto de ressurreição que buscamos e construímos.

É ressurreição quando, semelhantes aos que acolheram Jesus com ramos de Oliveira, em Jerusalém (cf. Mt 21,1-11), acolhemos nossos doentes em nossos hospitais e estendemos a eles nossos mantos de cuidado, proteção e carinho.

É ressurreição quando, semelhantes a Marta e Maria (cf. Lc 10,38-42), ficamos em casa para cuidar daqueles que nos são importantes e fundamentais.

É ressurreição quando, semelhantes à mulher que unge os pés de Jesus com um perfume precioso (cf. Jo12,1-11), nós nos esforçamos com o máximo cuidado para ungir de carinho e proteção nossos irmãos e irmãs, que estão no chamado “grupo de risco”.

É ressurreição quando, semelhantes a Jesus, que disse aos seus discípulos: “Ide, preparai a ceia” (Lc 22,8), ficamos em casa e redescobrimos a alegria e o prazer de estarmos todos ao redor da mesma mesa.

É ressurreição quando, semelhantes a Jesus, que lava os pés de seus amigos (cf. Jo 13,1-20), nós lavamos as mãos como sinal de proteção, de cuidado, expressando não apenas um gesto de higiene, mas um gesto de ternura por quem amamos.

É ressurreição quando, semelhantes a Jesus, que disse “Isto é meu corpo que é entregue por vós” (Lc 22,19), médicos, enfermeiros e todos os profissionais da saúde, esgotados física e emocionalmente, entregam seu tempo e suas vidas, e fazem quase o impossível para atender a população.

Também é ressurreição quando, semelhantes a Jesus que se defronta com a angústia da morte no Monte das Oliveiras (cf. Mc 14,32-38), ficamos preocupados e angustiados com a situação limite que vivemos.

É ressurreição quando, semelhantes a Jesus que toma em seus ombros a cruz, assumimos nossa responsabilidade, pessoal e coletiva, diante dessa crise que não é exclusivamente econômica ou de saúde, mas uma crise humanitária.

É ressurreição quando, semelhantes a Jesus na cruz, que afirma: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46), nós percebemos que somente uma vida entregue nos demonstrará que não temos todas as respostas e que não somos autossuficientes.

Por fim, é ressurreição quando, semelhantes a Jesus que sai glorioso do túmulo e vence a morte, sairmos com mais vida desse momento, quando fizermos o máximo em todas as nossas decisões para que, como comunidade universitária, sintamo-nos protegidos e redescobrirmos que podemos, também nós, passar pelo mundo fazendo o bem.

Será uma Páscoa diferente a nossa? Com certeza! Será a Páscoa que passaremos uns pelos outros fazendo o bem, colocando nossas obras e nossas mãos a serviço do mundo.

Abençoada Páscoa a todos!