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Pesquisa - 12 abr 2022

Expedição busca novas formas de diagnóstico da hanseníase em comunidade no Pará

Visita à Vila do Prata (PA) tem a participação de pesquisadores internacionais e integra um estudo sobre imunodiagnóstico da hanseníase

Pesquisa liderada pelo professor Marcelo Távora Mira, do PPGCS, em comunidade no Pará

Casos de hanseníase se tornaram cada vez menos comuns nos últimos 20 anos graças à evolução dos tratamentos. Agora, uma nova expedição à Vila do Santo Antônio do Prata, uma ex-colônia de hansenianos localizada no Pará, busca estudar novas formas para facilitar o diagnóstico da doença.

A equipe de pesquisa, liderada no Brasil pelo professor Marcelo Távora Mira, do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGCS) da PUCPR, atendeu mais de 500 pessoas entre os dias 21 e 26 de março, como parte do estudo. Com o consentimento de cada paciente, foram realizados testes rápidos e laboratoriais na comunidade. “Os dois exames têm a mesma proposta: oferecer apoio ao médico para decidir se o paciente tem hanseníase ou não”, explica Mira.

Participaram também da expedição os médicos dermatologistas e hansenólogos Danilo Barros e Sérgio Aguilera, os residentes de dermatologia Luisa Polo Silveira e Breno Kliemann, as estudantes de doutorado do PPGCS Antoniella de Aguiar e Andressa Mayra dos Santos; o professor Jeffrey Hallam da Kent State University (EUA); a pesquisadora holandesa e investigadora principal do estudo, Annemieke Geluk, do Leiden University Medical Center, da Leiden University (Holanda) e sua estudante Louise Pierneff, além de pesquisadores e uma equipe de enfermeiras da Universidade Federal do Pará (UFPA).

 20 anos dedicados ao estudo

A expedição dá continuidade a uma ampla iniciativa de pesquisa junto à comunidade da vila do Prata, conduzida pelo laboratório do prof. Mira, e que já produziu estudos importantes na área de suscetibilidade genética à hanseníase. Mais recentemente, o grupo conduziu um estudo que analisou a transmissão de cepas de hanseníase resistentes com publicação na Clinical Infectious Diseases, uma das revistas científicas de maior impacto no mundo em doenças infecciosas. Na ocasião, os pesquisadores investigaram o status de resistência do Mycobacterium leprae – agente causador da hanseníase – ao tratamento padrão no mundo todo (chamado “poliquimioterapia”, ou PQT, uma combinação de três medicamentos) e distribuído gratuitamente pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Já são mais de 20 anos de pesquisa, incluindo outras expedições à comunidade com equipes de médicos e cientistas.

Na década de 1920, a vila do Prata tornou-se um local para o isolamento compulsório de pacientes com hanseníase diagnosticados nos estados do Norte e Nordeste do Brasil. O isolamento deixou de ser obrigatório em 1962, mas o estigma social associado à hanseníase ainda é presente, tornando rara a saída de indivíduos portadores e a entrada de indivíduos não portadores da doença para a comunidade. Como resultado, a Vila da Prata permanece relativamente isolada e, apesar dos esforços para o controle da doença, a hanseníase ainda é altamente presente em toda a comunidade.

No presente estudo, baseado na Universidade holandesa de Leiden, financiado pela Leprosy Research Initiative e liderado globalmente pela Dra. Anemmieke Geluk, os pesquisadores estão buscando validar testes de diagnóstico imunológico da hanseníase, desenvolvidos pelos holandeses, e que podem facilitar muito a detecção de indivíduos afetados. “O grande diferencial dos testes é que são baratos e simples de realizar, podendo serem aplicados mesmo no campo, em situações de baixo acesso à tecnologia de um laboratório”, diz Mira. O estudo ainda será conduzido pelos próximos dois anos; ao final, a expectativa é de ter os testes validados e prontos para serem oferecidos nos serviços de saúde pública do Brasil e de outros países ainda endêmicos para a doença.

Pioneirismo

A pesquisa é pioneira na área: o diagnóstico da hanseníase ainda é essencialmente clínico e muitas vezes difícil, exigindo alto grau de treinamento das equipes médicas que normalmente não se encontra nos serviços de atenção primária à saúde. Portanto, testes de auxílio diagnóstico rápidos e sensíveis podem auxiliar na detecção rápida de novos casos, reduzindo a chance da ocorrência de danos neurais permanentes como com frequência ocorrem em pacientes diagnosticados e tratados tardiamente; além disso, os testes podem facilitar o desenho de ações de prevenção da doença a nível de saúde pública.

Finalmente, a expedição coincide com uma retomada da pesquisa em doenças infecciosas na PUCPR: “com a pandemia de Covid-19, a hanseníase e várias outras doenças infecciosas ficaram mais negligenciadas, ou seja, é muito importante voltar as pesquisas e trabalhos nesta área”, conclui Mira.