Algumas coisas só acontecem uma vez na vida. Enquanto as vivemos, bate um desespero e achamos que vai dar tudo errado. Porém, elas dão certo e se tornam aquelas histórias épicas boas de contar. Já viveu uma dessas? A Nicolli Balzan já. E em uma das datas mais importantes para um universitário: a formatura.

Ela, que estudou Letras| Português-Inglês na PUCPR, havia optado por não participar da cerimônia de colação de grau em fevereiro de 2020, no Estádio Joaquim Américo Guimarães. Mais tímida, preferiu esperar e fazer algo menor. “Eu adoro conversar com as pessoas, mas ficar em um estádio, aparecer em um telão, com um monte de gente me olhando, não era para mim”, brinca Nicolli.

Com a chegada da pandemia, os planos mudaram um pouco, e ela conseguiria participar da formatura online, em julho. Recebeu o e-mail, programou-se, tudo certo.

No penúltimo dia do mês, porém, quando saía do trabalho, recebeu uma ligação completamente inesperada. Era Fernando, da equipe de Formaturas da PUCPR, perguntando se ela não participaria da formatura, que começaria em 20 minutos. O mundo de Nicolli parou por alguns minutos. “Eu respondi para ele: ‘vou sim, mas minha formatura é amanhã, não?”. Pois bem, não. Nicolli acredita que tenha conferido a data no mês errado, e confundiu os dias: a cerimônia seria na quinta, mas ela havia se programado para se formar na sexta.

Como sempre acontece nessas situações, justamente naquele dia havia saído um pouco mais tarde do trabalho – além de trabalhar em uma escola, ela também atende de maneira particular crianças com algum tipo de dificuldade na aprendizagem. “Minha aluna tinha se empolgado com o alfabeto, então fiquei um pouco mais. Quando o Fernando me ligou, eu estava chegando no terminal para pegar o ônibus para casa, mas não ia dar tempo, precisei chamar um carro de aplicativo”, conta Nicolli.

De dentro do Uber, Nicolli foi se organizando para participar da formatura, baixando as ferramentas necessárias e fazendo os logins. “O Fernando me ajudou muito! Ele ficou calmo e me tranquilizou, dando todas as instruções do que eu precisava fazer”. Enquanto isso, o motorista do carro, Cristiano – Nicolli fez questão de memorizar o nome dele -, assistia a tudo. “Contei que ele estava participando da minha formatura, e ele ficou muito surpreso. Deu-me os parabéns e disse que nunca ia esquecer a situação”, relembra Nicolli, rindo.

Apesar de Fernando ter mandado o link para que os amigos e familiares assistissem a formatura, com a correria, poucos conseguiram acompanhar. As pessoas mais importantes, entretanto, viram desde o começo: a mãe e a melhor amiga de Nicolli. Com a ajuda do carro, ela conseguiu chegar em casa antes de ter seu nome anunciado. “Somos só eu e minha mãe, então foi muito importante ter ela ali comigo. Foi especial, foi lindo, a melhor formatura que eu poderia ter”, explica.

Muito além de uma história inusitada e boa de contar na posteridade, Nicolli vê a situação com simbolismo, representando um fechamento de ciclo muito importante. Acompanhar a cerimônia de dentro do carro, inicialmente, foi um esforço e uma demonstração de resiliência para não deixar escapar a concretização de uma trajetória de muito esforço, luta e sonhos. No começo da faculdade, Nicolli trabalhava fora da área de educação para ajudar nos custos, e cursou duas graduações simultaneamente. Estava sempre correndo contra o tempo para dar conta de tudo. “Eu acho que foi um chacoalhão para eu me lembrar que o simples também tem valor. Se Deus for brincalhão, essa foi uma peça que ele me pregou para eu não esquecer das minhas origens, agora que minha vida está mais confortável”, reflete Nicolli.

A recém-graduada em Letras diz que quando o momento turbulento da pandemia passar, faz questão de encontrar Fernando para agradecer. “Para ele, pode ter sido só mais um dia de trabalho, mas, para mim, essa atitude dele foi muito importante. E ele ainda brincou comigo, quando eu estava mais calma, falando que seria a primeira formatura no Uber, na história da PUCPR”, conta. “Eu sou só gratidão”.