Há um certo olhar pessimista quando refletimos sobre tecnologia, especialmente na ficção. No livro 1984, vemos um mundo totalitário onde não há como fugir da vigilância eletrônica nem durante o sono. Em Admirável Mundo Novo, uma sociedade inteiramente organizada segundo princípios científicos serve para aniquilar valores da civilização humanista. Na série Black Mirror, recursos tecnológicos já existentes são potencializados em situações que mostram como somos escravos e paranoicos com nossos celulares e redes sociais. Embora essas obras tragam reflexões válidas sobre a sociedade, o sentimento é sempre de temor de um futuro tenebroso. Estamos perdidos. Na vida real, entretanto, esse futuro parece ser bem mais alentador.

Pelo menos é o que mostra André Telles em seu quinto livro, O Futuro é Smart, recém lançado pela PUCPRESS. Longe de escrever uma obra de ficção ou distopia, Telles analisa como as novas tecnologias redesenham o mundo em que vivemos em exemplos reais, que não deixam o leitor apavorado com o que vem pela frente ou nostálgico pensando em como tudo era melhor antes.

Telles marca o tom da narrativa como se fosse uma conversa informal para discutir o futuro das coisas e o “pensar smart”, que não tem nada a ver com aquela nossa televisão smart. Ou pelo menos não apenas isso. Pensar de forma inteligente é uma forma de concentrar esforços intelectuais e físicos na simplificação de dilemas com os quais nos deparamos, aponta o autor. E como a tecnologia é um meio na construção da sociedade atual e futura, não um fim em si.

Mas são nos exemplos, e não nas teorias, que Telles deixa o livro fluir de forma orgânica. Ao mesmo tempo em que discute big data, internet das coisas e realidade aumentada, também fala do futuro do trabalho, de como a indústria 4.0 e 5.0 mecanizada não vai acabar com funções humanas e sim criar outras.

Não há no livro nenhuma previsão sobrenatural, mas sim analítica de como o mundo se comporta. A obra tenta mostrar ao leitor que as mudanças ocorrem porque nós buscamos resolver um problema, e que, por mais robotizados e informatizados sejam nossos produtos, as criações sempre saem do intelecto humano e das nossas vontades. “A solução smart que temos para o problema do dia de amanhã”, diz o autor.

Escritor, palestrante e co-fundador do iCities, empresa especializada no tema de cidades inteligentes, Telles não soa exagerado, mas prático. Dividido em capítulos e subcapítulos relativamente rápidos, a obra não fala apenas para interessados na área de tecnologia. Ao ampliar o conceito smart para pequenas e grandes questões do cotidiano, o autor dá espaço para discutir a angustiante briga entre trabalho como sustento versus trabalho como realização, a ascensão das carreiras criativas, o futuro da privacidade e como as cidades e a gestão pública podem melhorar o dia a dia dos cidadãos por meio da inovação.

O mais marcante do livro é a oportunidade de o leitor abrir os olhos e entender conceitos que parecem futuristas ou inacessíveis demais. Ao falar de tecnologia como se estivéssemos na sala de casa conversando com um amigo, Telles apresenta inovações reais que impactam desde os donos de casa, que precisam de um ferro de passar mais inteligente até um grande chefe de estado, que precisa melhorar a performance de sua nação. Sem pessimismo e com um olhar instigante, as 165 páginas de O Futuro é Smart provocam tantos insights quanto qualquer episódio apocalíptico de Black Mirror.

Sobre a PUCPRESS

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Para que as publicações da PUCPRESS atinjam ainda mais reconhecimento e projeção em âmbito nacional e internacional, valores maristas, excelência e inovação norteiam os processos editoriais. O conteúdo acadêmico e profissional é disponibilizado nos formatos de livros digitais e impressos, revistas científicas com parcerias estratégicas e eventos de divulgação.