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Destaque - 04 set 2020

Gerar e compartilhar conhecimento em prol dos pacientes

Grupo formado por professores, pesquisadores e estudantes da PUCPR se uniu para estudar o novo coronavírus no dia a dia e trocar informações

grupo de pesquisa

Em 1994, Pierre Lévy já adiantava um cenário de compartilhamento de conhecimentos pela internet e um maior nível de informação quando falava sobre cibercultura e inteligência coletiva. Em 2020, com o surgimento de uma doença globalizada sem precedentes nem histórico de tratamento, a troca de informações e métodos possíveis entre equipes de saúde de diferentes países, por meio da internet, foi fundamental para encontrar formas de melhorar a assistência às pessoas diagnosticadas com COVID-19.

Foi nesse cenário que surgiu o grupo de pesquisa que reúne professores da Universidade de diferentes especialidades médicas, profissionais de laboratório da PUCPR, estudantes da graduação e pesquisadores de mestrado e doutorado, além de enfermeiros dos hospitais do Grupo Marista e profissionais de outras áreas da saúde. O grupo analisa, observa e pesquisa a evolução da infecção pelo novo coronavírus em pacientes nos hospitais para gerar conhecimento sobre a doença, distribuindo os insights à comunidade de saúde, inclusive por grupos no whatsapp e lives.

Além desse compartilhamento mais informal, os participantes também produzem conhecimento científico, divulgando artigos em veículos especializados. “Já tivemos dois estudos publicados, temos outros oito encaminhados e mais três em fase avançada de revisão. Porém, há material de análise para mais dois anos de pesquisa, pelo menos, já que ainda falta saber muita coisa sobre essa doença”, explica a professora Cristina Baena, que coordena o grupo.

Todo o material de pesquisa coletado, incluindo formulários e materiais biológicos, como amostras de sangue – sob autorização de pacientes ou familiares -, são analisados nos laboratórios da PUCPR. Nesse processo, também estão envolvidos, além dos profissionais, alguns estudantes da graduação em Medicina da Universidade que participam da Iniciação Científica, o que enriquece muito a experiência com a profissão. “Eles têm a oportunidade de participar de reuniões com pesquisadores e acompanham a pesquisa transacional ocorrendo em tempo real, ou seja, veem o problema no leito do hospital, a pesquisa que é feita sobre isso, e o retorno da solução para o hospital, sem perder a humanização”, observa a professora.

Você pode conferir algumas das experiências desses estudantes nesta matéria: Acadêmicos da PUCPR atuam no combate à pandemia.

Assim como ocorre com tantas coisas na modernidade, o grupo foi se adaptando às necessidades. Começou com poucas pessoas e cresceu à medida que a resposta dos pacientes tornava a situação mais complexa. “Conforme surgiam novas perguntas em relação à doença e outros órgãos eram afetados, nós chamávamos mais especialistas”, relembra Baena. Com isso, o grupo ganhou tanta importância que os profissionais se colocam à disposição para colaborar. Hoje, já são quase 30 pessoas envolvidas, contando médicos, professores da PUCPR, enfermeiros, fisioterapeutas, pesquisadores e estudantes.

Pesquisas geraram descobertas

A professora Cristina destaca que, pelo fato de o Brasil estar no fim do ciclo epidemiológico, ou seja, o novo coronavírus passou por diversos outros países da Ásia e da Europa antes de ganhar força por aqui, as descobertas inéditas diminuem, mas que o grupo conseguiu algumas respostas interessantes, ainda não observadas em outros países. “Outros centros de tratamento ficaram muito sobrecarregados com os atendimentos e poucos conseguiram se organizar para estudar a doença como nós aqui na PUCPR e nos hospitais do Grupo”, comenta.

Dentre essas descobertas, estão dois mecanismos da doença que afetam o coração: o primeiro é o adoecimento dos vasos que chegam ao órgão. Eles são comprometidos tanto pelo vírus em si, quanto pelo processo inflamatório causado pelo SARS-COV2 e, com a alteração, fecham-se. O segundo mecanismo é um edema. Há um tipo de célula, chamada mastócito, que aumenta a saída de líquido dos vasos que ficam entre as células. Esse líquido “fora de lugar” dificulta a comunicação necessária para o funcionamento correto do coração. Como consequência, o órgão não bate corretamente. “Ambos os processos podem causar arritmia cardíaca. Já no caso do edema, se esta condição continua por bastante tempo, o que acontece durante um internamento por COVID-19, há o desenvolvimento de fibrose, o que enfraquece o coração e leva à insuficiência cardíaca”, explica a professora do curso de Medicina da PUCPR, Lucia Noronha, que conduziu esta pesquisa.

A união faz a força

Além dos insights que surgiram a partir dos estudos, as condições que levaram a eles se mostraram fundamentais: a união e o trabalho em conjunto. “Esse projeto passou a ser de uma equipe e não de 1 ou 2 pesquisadores, o que nos permitiu chegar nesse estágio”, conta a professora Cristina. Além disso, a partir desta iniciativa, médicos e profissionais de saúde do Grupo Marista integraram os programas de pós-graduação da PUCPR, produzindo suas teses de mestrado e doutorado sobre a doença. “O projeto serve para gerar conhecimento e qualificar as pessoas, o que está totalmente alinhado à nossa missão como instituição e Grupo Marista”, destaca Baena.