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Destaque - 24 fev 2021

Você tem dúvidas sobre as vacinas contra a Covid-19? Venha entender algumas explicações!

Professor de imunologia da PUCPR responde algumas dúvidas relacionadas às vacinas contra o coronavírus, enviadas por seguidores da Universidade

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Depois da cobertura sobre o início da vacinação contra a Covid-19 em Curitiba, feita pelos estudantes de Jornalismo, a PUCPR perguntou nos Stories do Instagram se os seus seguidores tinham alguma dúvida relacionada ao assunto.

Para responder essas perguntas, convidamos Sérgio Surugi de Siqueira, professor de imunologia do curso de Farmácia da PUCPR e doutor em Fisiologia pela Pontificia Universidad Católica de Chile. Ele também é membro titular da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e docente do Programa de Pós-Graduação em Bioética da PUCPR.

Seguidor da PUCPR: A vacina é segura?

Professor Sérgio: As vacinas usadas no Brasil demonstraram nos estudos clínicos que são seguras, inclusive com altos índices de segurança. Isso não impede que ocorram efeitos adversos, mas, quando eles ocorrem, a maioria é leve. Efeitos adversos graves de vacinas são raríssimos e nas pesquisas também foram muito poucos.

As vacinas foram feitas muito rapidamente. Mesmo assim são seguras?

Mesmo sendo desenvolvidos rapidamente, os imunizantes são seguros. Essa rapidez aconteceu, basicamente, por três motivos: primeiro, a tecnologia para produção dessas vacinas já existia, nós sabíamos como fazer, então era necessário apenas adaptar ao coronavírus. O segundo motivo, é que houve muito investimento do mundo todo para esse desenvolvimento. Já a terceira razão é que estamos vivendo a pandemia. Isso é importante porque precisamos de muitos casos para fazer a testagem, o que aconteceu em poucas semanas. Comparativamente, se fôssemos desenvolver, hoje, uma vacina para a caxumba, demoraria muito mais, porque existem poucos episódios desses no Brasil.

Quem já teve Covid-19 precisará, futuramente, tomar a vacina?

Nós ainda não temos a informação de quanto tempo dura a imunidade conferida pela infecção natural, ou seja, de quem já entrou em contato com o vírus. Exatamente por isso e por não haver contraindicação, quem já teve a Covid-19 está se vacinando, principalmente profissionais de saúde, que estão muito expostos.

O que vai acontecer com os menores de 18 anos e as grávidas? É verdade que esses grupos não poderão tomar? Por quê?

A única razão para dizermos para essas pessoas não tomarem, é porque elas não foram testadas. Então, é um cuidado extra. Como não foram feitos testes específicos nesses grupos, não temos dados para afirmar que é segura ou indicar que essas populações tomem. Mas do ponto de vista teórico não há contraindicação, pelo menos para maiores de 12 anos, mulheres grávidas ou lactantes. A boa notícia é que alguns imunizantes já estão sendo testados nessas populações, então é muito provável que, nos próximos meses, tenhamos a recomendação de aplicação para eles.

Vi que outras vacinas têm uma eficácia maior do que a aplicada no Brasil. Isso é verdade?

Sim, mas isso precisa ser analisado com muita cautela, porque as metodologias dos estudos são diferentes. A Coronavac, por exemplo, que teve sua eficácia muito discutida, questionada, porque ficou próximo do mínimo exigido, foi testada em pessoas que estavam expostas a um risco grande de contrair a doença. Então eles “estressaram” o estudo [no sentido de levar ao limite] e isso normalmente faz a eficácia ser menor. Já outras vacinas, que alcançaram índices maiores, foram testadas na população geral, e nem sempre essas pessoas se expõem ao vírus, muitas vezes elas se cuidam. Portanto, esses números relacionados à eficácia são preliminares e servem muito mais para termos indícios de que a vacina é eficaz. É possível que com a aplicação do imunizante ao longo do tempo, verifique-se que esses índices não são os mesmos do início da pesquisa.

Outra coisa: é preciso considerar a eficácia de acordo com o cenário proposto. Nenhuma das vacinas foi testada para saber se impede a infecção. Elas passaram por estudos para verificar se evitam a doença causada pelo coronavírus. De toda forma, o que a gente pode afirmar é que o número de casos vai ser muito, muito, menor do que ocorre hoje, sem vacina.

A gente corre o risco de virar jacaré?

Não há essa possibilidade por um motivo muito simples: essas vacinas são feitas com RNA e ele não entra no núcleo da célula, onde está o nosso material genético. Inclusive, o RNA é destruído rapidamente no nosso corpo. Sendo assim, não há nenhum risco de alteração do DNA pela vacina.

Imunodeficentes terão prioridade no uso da vacina?

Não, pelo menos nesse momento. Porém, no caso desses pacientes, recomendamos que procurem, primeiramente, o médico responsável pelo seu acompanhamento para então decidir se tomarão a vacina. Mesmo quando ela estiver disponível a mais pessoas, não se deve omitir essa informação no momento da imunização. Isso também se aplica a pessoas com alguma alergia importante.

Após a vacinação, quanto tempo demora para estar imunizado?

Depois de receber o esquema completo de vacinação, entre 10 e 20 dias. Seja ele de uma ou duas doses. Após esse período, em tese, a pessoa já tem uma quantidade de anticorpos protetores suficientes.

Mesmo depois desse prazo, porém, é necessário continuar tomando os cuidados como uso de máscaras, lavagem de mãos e não participar de aglomerações. Ainda não sabemos tudo sobre a doença e também é possível que a vacina não evite a infecção. Nesse caso, a pessoa poderia transmitir o vírus.

Qual a previsão para termos uma vacinação para a população em geral? E quanto tempo deve levar até todos se vacinarem?

Essa é a pergunta de um milhão de dólares (risos). Veja, o nosso Programa Nacional de Imunização já é reconhecido, há muitos anos, como o melhor do mundo. Então nós temos toda a condição de vacinar as pessoas rapidamente com uma abrangência muito grande, mesmo nos locais mais ermos do país. O problema é termos o imunizante. A reposta dessa pergunta, portanto, depende da disponibilidade de vacinas e da capacidade do Brasil em produzi-las, quando isso puder acontecer. Por enquanto, estamos vendo que está difícil comprar uma quantidade mínima. Depois que essa questão da disponibilidade estiver resolvida, tende a ser muito rápido. Meu palpite pessoal é que até o fim do ano teremos entre 60 e 70% da população brasileira imunizada.

Com as pessoas sendo vacinadas, em que momento podemos começar a considerar não usar mais máscara, por exemplo? Que porcentagem da população precisa estar protegida?

Isso não é medido pela porcentagem de pessoas vacinas, mas pela quantidade de casos. Quando esse número for mínimo, aí sim pode-se afrouxar porque será um indício de que o vírus diminuiu de circulação. Essa redução, na minha opinião, ainda vai demorar, porque até onde sabemos a vacina não impede que a pessoa pegue a Covid-19, apenas impede a doença, e aí o vírus continua circulando. A volta ao normal só deve ocorrer mesmo quando o número de casos, no mundo todo, estiver baixo, significando que a doença está mais controlada. Infelizmente, essa não é uma boa notícia, mas com a vacina estamos muito melhor. Se ela, pelo menos, nos der a tranquilidade de que ao pegar a doença não desenvolveremos a forma grave, já é muito importante.

Sou jovem, mas do grupo de risco. Posso tomar a vacina? Se sim, tem alguma previsão de data?

Sim, pode tomar. Por enquanto, a Prefeitura de Curitiba está convocando nominalmente porque a quantidade de imunizantes é pequena. Também não foi definido, ainda, o plano para outros grupos de risco, que não foram contemplados nessa primeira etapa, portanto, é preciso ficar atento às deliberações do município. A princípio, quando isso ocorrer, deve bastar se dirigir ao posto de saúde com um atestado médico para ser vacinado. Mas, novamente, depende da quantidade de imunizantes disponíveis. Quanto menor for esse número, mais restritos serão os critérios para a vacinação.

O professor recomenda a vacinação?

Eu estudo isso há muito anos, já produzi vacinas, então a minha posição é muito clara: a vacina é um dos maiores avanços da história da Medicina. Ela já evitou muitas mortes, especialmente de crianças, e já economizou muito dinheiro dos governos. A vacina é segura, eficaz e a minha recomendação é de que tomem. Eu tomarei, assim que chegar a minha vez.

 

Esse conteúdo faz parte do movimento #TodosPelasVacinas ,que mobiliza instituições científicas para incentivar a imunização e combater fake news sobre o tema. A campanha é uma iniciativa da Fundação Araucária. Além da PUCPR, também fazem parte do movimento a Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), Instituto Federal do Paraná (IFPR), a Fundação da Universidade Federal do Paraná (Funpar) e a Universidade Tuiuti do Paraná.